A ala que faz oposição a Carlos Lupi no PDT aposta na próxima reunião do diretório nacional da sigla, a ser realizada no sábado, para elevar a pressão sobre o ministro do Trabalho. O grupo espera ter mais espaço para reivindicar o afastamento do ministro, uma vez que Lupi mantém aliados em postos estratégicos na executiva nacional e nas direções estaduais do partido.
Lupi enfrenta uma série de denúncias de irregularidades nas relações do Ministério do Trabalho com organizações não governamentais. O ministro nega que tenha participação nos atos citados pela imprensa, e afirma que tomou as providências para que as denúncias sejam investigadas pela Polícia Federal e o Ministério Público. No Planalto, entretanto, é dado como certo que Lupi deve deixar o ministério na reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff promoverá.
"A essa altura, não há nenhuma manifestação de debandada no lado dele", afirmou o ex-deputado federal fluminense Vivaldo Barbosa, um dos integrantes do grupo que faz oposição ao ministro. "Isso pode levar um tempo para maturar. Se as coisas [denúncias] se avolumarem, ampliam as preocupações com a permanência dele no comando do partido e no ministério. Mas, no geral, o partido está com o ministro."
Após o Palácio do Planalto sinalizar que o ministro precisaria contar com o respaldo político de seu partido para permanecer no cargo, Lupi, presidente licenciado do PDT, convocou uma reunião com a Executiva e as bancadas do PDT no Congresso. Conseguiu obter o apoio da cúpula da legenda. Por outro lado, passou a enfrentar a oposição do Movimento de Resistência Leonel Brizola, que na semana passada entregou uma carta à ControladoriaGeral da União pedindo maior rapidez nas investigações de supostas irregularidades.
Além de Vivaldo Barbosa, o grupo é integrado, por exemplo, pelos ex-deputados José Maurício, Carlos Alberto Caó, Fernando Bandeira, o deputado estadual Paulo Ramos (RJ) e por Hélio de Pinho. Todos fazem parte do diretório nacional e poderão ainda receber o reforço do senador Cristovão Buarque (DF) e do deputado Reguffe (DF). Os dois parlamentares também defendem o afastamento de Lupi.
"A executiva nacional é ainda muito ligada ao Lupi", comentou Fernando Bandeira, que afirmou estar decidido a comparecer à reunião mesmo que precise pagar do próprio bolso a viagem a Brasília. "O diretório nacional é mais amplo, mas certamente vão chamar mais o pessoal ligado ao Lupi."
Pelas contas de integrantes do Movimento de Resistência Leonel Brizola, praticamente todos os integrantes da executiva são aliados ou recentemente anunciaram apoio a Lupi, apesar de já terem se posicionado contra o ministro em situações anteriores. O deputado Brizola Neto (RJ), por exemplo, já foi crítico à centralização de poderes nas mãos de Lupi. Nos últimos dias, entretanto, defendeu a permanência do ministro no cargo.
"Estamos solidários a ele [Lupi], salvo uma ou outra voz isolada. A ampla maioria do partido está solidária e não tem nenhuma dúvida quanto à sua honradez e postura ética", destacou o deputado Vieira da Cunha (RS).
A ala que faz oposição ao ministro argumenta ainda que Lupi dissolveu o movimento sindical do PDT e criou barreiras à eleição da maior parte dos diretórios estaduais do partido, o que teria lhe dado margem para negociar alianças com parlamentares e líderes regionais. "Eles querem que tudo fique desorganizado, porque aí fica mais fácil para eles" criticou Fernando Bandeira.
O secretário-geral do partido, Manoel Dias, rebate. Diz que a recente pressão pela formação dos diretórios estaduais deve-se a interesses paroquiais relacionados à costura de alianças para as eleições municipais de 2012: "Isso [Movimento de Resistência Leonel Brizola] tem duas ou três pessoas. Quem conhece não leva a sério. Queremos convenções precedidas de seminários para as pessoas terem consciência política e ideológica do que estão fazendo."
O presidente em exercício do partido, deputado André Figueiredo (CE), reforçou: "A idéia é termos 20 diretórios constituídos até o fim do ano. A tendência no partido é diminuir as comissões provisórias."
Valor Econômico
Fernando Exman e Caio Junqueira
De Brasília
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